Pra comemorar os 10 ANOS da novela AMÉRICA, que serão completados em março desse ano (2015), temos a honra de entrevistar com exclusividade a autora GLÓRIA PEREZ, que também é autora de outro sucesso, O CLONE. E ambas protagonizadas pelo nosso Murilo Benício.
FC - Você já disse em entrevista que a ideia inicial para o tema central da novela (imigração ilegal) foi durante uma viajem aos EUA. Mas como surgiu a ideia de abordar o universo dos rodeios ? Você sofreu criticas das pessoas que são contra essa pratica ?
GP - O tema de América é o sonho americano. A força do sonho americano, que Hollywood vendeu para o mundo, mostrando os EUA como o lugar onde todos podem ascender e se dar bem. Nessa esperança, as pessoas correm riscos inacreditáveis para tentar entrar ilegalmente, atravessando a fronteira, como foi mostrado em América. Para fazer contraponto com isso, eu tinha que localizar a história em algum espaço muito tipicamente brasileiro, por isso optei pelo universo dos peões.
FC - Nesse mesmo núcleo, você deu enfoque também ao espiritismo, além das devoções em Nossa Senhora Aparecida e de Guadalupe. E notamos que em suas novelas, sempre tem alguma religião em destaque. Isso é um tema que gosta de ter em suas tramas ou apenas coincidências ?
GP - Pura coincidência nunca escrevi uma novela pensando em religião. Em América, a devoção a NS Aparecida é muito importante no mundo dos peões. E a cena em que Tião “morre” e volta, foi inspirada num caso real: o peão que o touro Bandido jogou a 6 metros de altura.
FC - Muito antes de Niko e Felix, Clara e Marina, você escreveu e foi gravado a cena em que Junior (Bruno Gagliasso) beijava Zeca (Eron Cordeiro). Você ficou frustrada de não ter ido ao ar e anos depois duas novelas seguidas terem tido sem menores problemas, as cenas de um beijo gay transmitidas ? O que acha sobre isso ?
GP - Na época é claro que fiquei frustrada. Nesses dez anos as coisas mudaram muito, e fico contente que a quebra desse tabu faça parte dessa mudança. Vibrei e aplaudi quando Walcyr conseguiu, finalmente, mostrar o beijo gay numa novela.
FC - Cleptomania também foi um assunto abordado, e brilhantemente interpretado pela Christiane Torloni. E ajudou muitas pessoas a conhecerem mais sobre esse distúrbio. Como foi o processo de pesquisa sobre esse assunto ?
GP - Faço pesquisa de campo. Conversei com muitas pessoas que tinham esse problema, seus familiares, psicólogos e atendentes de lojas. São eles que vivem a situação constrangedora de ter que resolver o assunto, diretamente com a pessoa que tem o transtorno, ou com sua família.
FC - Os métodos que a personagem Sol (Deborah Secco) se submetia ao tentar as travessias ilegais, foi inspirado em fato que você ouviu/leu/pesquisou sobre os imigrantes ?GP - Fiz uma pesquisa muito ampla com imigrantes. Visitei a prisão onde eles ficam, conversei com a policia, com a embaixada dos EUA, estive visitando a fronteira, e até voltei para o Brasil num avião junto com os deportados. Para escrever América convivi com muitos imigrantes ilegais, os que chegaram nos EUA pela fronteira e os que vieram de Cuba, através do mar. América conta a história deles. Algumas daquelas cenas são absolutamente reais, como a moça que é picada pela cobra durante a travessia e lhe dão o tiro de misericórdia. O dramático é que mesmo passando por todos os riscos, as pessoas continuam tentando -os deportados costumam voltar 2, 3, quantas vezes for possível, para tentar de novo.
FC - Em América, o mocinho não termina num "happy end" com a mocinha. Isso foi uma escolha sua e já estava pré determinado ? Foi no decorrer da novela por conta da estória ? Ou você presta atenção naquilo que o público gosta mais pra definir os finais de suas novelas ?
GP - Foi planejado. A vida é assim, o amor é assim: a gente sonha, imagina, enfrenta mil obstáculos para que tudo dê certo e, no final a vida surpreende e você vê que não era nada daquilo. Acho interessante mostrar isso em novelas.
FC - Murilo já protagonizou 2 novelas sua seguidas. A atuação dele em O Clone te influenciou para a escolha dele em América ?
GP - Murilo é aquele ator que você quer sempre! um privilégio trabalhar com ele!
Nill Oliver - Salvador (BA) Glória em 1º lugar agradece-la por suas obras inesquecíveis, e gostaria de saber se você tem planos de fazer outra novela e ter o Murilo Benício no elenco ?
GP - Mas é logico! é um privilégio trabalhar com o Murilo. E se desde América não nos reencontramos não foi por falta de vontade -ele sempre estava escalado para outro produto!
Juliana De Menezes Oliveira - Salvador (BA) O que fez abordar o tema "trafico ilegal e escravização de garotas no exterior" em Salve Jorge ?
GP - A percepção de que ninguém estava olhando para esse drama, quando haviam milhares de brasileiros vivendo como escravos no exterior. Ao mostrar a maneira como é feita a aliciação de pessoas e o trafico dos bebes, Salve Jorge impediu muita gente de cair na armadilha!
Fabio Trindade - São Caetano (SP) Glória, como foi a parceria com a Telemundo para fazer um remake de O Clone ? Você ficou satisfeita com o resultado ?
GP - O Clone (o nosso Clone) é um fenômeno aí pelo mundo. Referencia de novela para todos os executivos do ramo. O Clone americano é conseqüência disso. Entao fiquei muito orgulhosa de que tenha sido feita. Eles nao mudaram essencialmente nada na historia central. Mas, é claro que prefiro a nossa versão: Jade e Lucas (Giovanna e Murilo) made in Brazil são imbativeis!
FICOU BACANA NÉ !? OBRIGADO GLÓRIA !!!!